História da Música Brasileira - De 1500 a 1959

Em abril de 1500 chega a esquadra portuguesa de Pedro Alvares Cabral em missão colonizadora, na futura Bahia. Provavelmente os índios excedem 2 milhões de habitantes. As músicas das muitas tribos são executadas em solos e coros, acompanhados pela dança, bater das palmas, dos pés, flautas, apitos, cornetas, chocalhos, varetas e tambores.

Primeiro contato dos índios com os portugueses

1538 Chegam os primeiros grupos de escravos trazidos da África para trabalhar na lavoura de algodão, tabaco e cana-de-açucar. Até o final do período de tráfego de escravos, em 1850, eles serão 3 milhões e meio no Brasil, trazendo suas músicas, danças, idiomas, macumba e candomblé – criando a base primordial de uma nova etapa fundamental na história inicial da música brasileira.

1549 Chegam as primeiras missões de jesuítas portugueses no Brasil. Além do catolicismo e dos princípios básicos de uma nova forma de civilização, os padres passam a introduzir as noções elementares da música européia aos índios e a apresentar seus instrumentos musicais, num primeiro contato importante de fusão e influências na nascente história da música brasileira.

1600 apesar da maioria da população de índios brasileiros ter sido praticamente dizimada pelos colonizadores portugueses, bandeirantes e contendores europeus, a música indígena e seus instrumentos deixam fortes influências em toda formação básica da história da música brasileira que se desenvolve – além de incorporar os primeiros traços da música portuguesa e européia –, numa cultura de transição e assimilações permanentes.

1630 a cultura musical africana dos escravos negros é preservada e desenvolvida através dos Quilombos – colônias de refugiados que resistem bravamente no interior do Brasil –, sendo o de Palmares, no interior do Estado de Alagoas, historicamente o mais importante, que durou um século, após ser destruído em fevereiro de 1694, por tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho, após sete anos de ataques ininterruptos. O grande líder do Quilombo de Palmares é Zumbi, morto no ano seguinte. Surgem as primeiras novas formas de uma música afro-brasileira, que desenvolveria o afoxé, jongo, lundu, maracatu, maxixe, samba e outros gêneros futuros.

Zumbi dos Palmares

1650 A colonização portuguesa introduz largamente outros instrumentos europeus sofisticados como a flauta, violão, cavaquinho, clarinete, violino, violoncelo, harpa, acordeon, piano, bateria, triângulo e pandeiro. A partir dos rituais religiosos das missões jesuítas nascem os primeiros cultos folclóricos populares dos habitantes locais como o 'reisado' e o 'bumba-meu-boi'. A música sacra, as melancólicas baladas e as modas portuguesas contribuem para a formação da música brasileira.
1700 Em meados do século XVIII, surgem, no Rio de Janeiro e Bahia, as lendárias e divertidas músicas de barbeiros . São pequenos grupos musicais compostos de escravos negros barbeiros com tempo disponível para se dedicarem ao aprendizado de velhos e desgastados instrumentos musicais que lhe são passados. Segundo estudiosos, essa seria a primeira verdadeira manifestação de uma música popular brasileira instrumental de entretenimento público. Essas pequenas orquestras ambulantes, também chamadas de 'charangas' ou 'ritmos de senzala', muito requisitadas para festividades e procissões como a do Domingo do Espírito Santo, tocavam flauta, cavaquinho, violas, rabeca, trompa, pistão, pandeiro, tamboril, machete, e interpretavam – muito à sua maneira livre – fandangos, dobrados, quadrilhas, lundus e polcas num repertório bem diverso. Da música desses deselegantes mas charmosos barbeiros descalços, nasceriam os 'ternos', as bandas de coreto, as militares e o choro. Elas existiriam até meados do século seguinte.

1750 Surge até então o mais importante gênero musi cal – a modinha –, criado em Portugal, e responsável pelos aspectos melódicos e românticos na música brasileira, de grande influência até a Nova República, no início do século XIX. Detalhe: em 1755, Salvador tinha 37.543 habitantes.
1770 A partir dessa década, com o avanço do processo de urbanização, intensifica-se a produção musical religiosa (lírica) na América Portuguesa, no Brasil, também importante para o futuro próximo da música popular, com vários autores nacionais como Inácio Parreiras Neves (1730-1791), Manoel Dias de Oliveira (1735-1813),
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1754-1808), André da Silva Gomes (1752-1844) e outros.

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita

1780 Outra importante forma musical – consta do primeiro registro escrito de referência do lundu africano no Brasil – gênero musical trazido dos escravos bantos do Congo e Angola –, e que seria amplamente popularizado. O estilo de música é descrito como uma dança lasciva com suas umbigadas. É um dos elementos embrionários de formação do futuro samba. A partir do começo do século XIX, o lundu apresenta variantes como o miudinho, a tirana tipo espanholada, o fado batido e a chula. Seu apogeu vai do começo de 1800 à 1920, sendo o músico popular Xisto Bahia (1841-1894) o mais importante compositor do gênero. Detalhe: no Rio de Janeiro, existem 43.400 habitantes.

1786 Registro do primeiro grande desfile de carnaval, no Estado da Guanabara, em comemoração ao casamento do Príncipe D. João (futuro D. João VI) com a Princesa Carlota Joaquina. Nos dias 2 e 4 de fevereiro, o tenente Antônio Francisco Soares prepara seis grandes carros alegóricos – Cavalhadas Sérias, Baco, Cavalhadas Jocosas, Mouros, Júpiter e Vulcano – todos ricamente desenhados e ornamentados com alguns deles soltando fogos e jorrando vinho aos milhares de presentes. Os carros são puxados por cavalos e burros, com muitos elementos de harmonia, comissão de frente, fantasias, alegorias e os embrionários passistas. Mas, os desfiles de carnaval já eram conhecidos desde meados do século XVII.

1831 Os grandes proprietários latifundiários criam a Guarda Nacional, cujos músicos militares fardados passam a incluir em seus repertórios oficiais, além dos hinos-marchas e dobrados, trechos de música popular e de música clássica. Surgimento dos Coronéis do Sertão nordestino. 1840 Primeiro baile de máscaras, no Rio de Janeiro, no dia 22 de janeiro, no baile do Hotel Itália, na posterior Praça Tiradentes, numa bem-sucedida tentativa da alta sociedade da época, de D. Pedro II, de importar o estilo do carnaval de salão de Veneza.

1845 No dia 3 de julho, é apresentada pela primeira vez a polca, no Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro. Dança rústica da Boêmia – parte do império austro-húngaro e atual província da Checoslováquia –, a polca chega à capital Praga em 1837, e se transforma em dança de salão. Depois da apresentação brasileira, a polca vira a nova febre carioca com a formação da Sociedade Constante Polca, em 1846. Além de dança de salão, o gênero invade teatros e ruas, tornando-se popular através dos próximos grupos de choro e grupos carnavalescos. Os maiores compositores de polca são Ernesto Nazaré (1863-1934), Calado (1848-1880), Anacleto de Medeiros (1866-1907), Irineu de Almeida (1890-1916), Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) e Miguel Emídio Pestana (fins do séc. XIX e inícios do séc. XX). Foi o gênero básico de apoio para outras fusões musicais com o lundu, o fadinho e os motivos militares.

Teatro São Pedro - RJ

1859 Surgem os primeiros bondes puxados à cavalo, no Rio de Janeiro, que passariam a integrar definitivamente as multifacetadas culturas populares e musicais dos diversos bairros e lugarejos da grande cidade, transformando a expressão musical local num enorme caldeirão de novos estilos e experimentos, principalmente com relação ao carnaval. Em 1892, surgem os primeiros bondes elétricos. Eles exercem uma forte influência de inspiração musical para compositores populares e o teatro de revista. Já totalmente suplantados pelo automóvel, que cresceria em importância como meio de transporte nos anos 30, os bondes desapareceriam em 1964, quando a cidade do Rio de Janeiro é toda pavimentada para as festividades de seu IV Centenário.

1870 Data de registro do primeiro rancho carnavalesco surgido no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, de nome Dous de Ouro, formado por nordestinos, antigos escravos e filhos de escravos baianos. Pioneiros da época ainda relataram o Rancho da Sereia, formado por sergipanos e alagoanos, rivais dos baianos, como o rancho anterior ao Dous de Ouro. Os ranchos carnavalescos surgiram inspirados nas procissões folclóricas religiosas dos Ranchos dos Reis Nordestinos.

Por volta de 1890, existem mais de dez ranchos carnavalescos cariocas. A partir de então, esboça-se os primeiros traços do samba através do batuque de origem africana. Em 19 de março, na Itália, estréia no lendário Teatro Scala de Milão, a obra máxima do maestro-compositor brasileiro paulista Carlos Gomes (1836-1896) – a ópera O Guarani –, baseado na romance de José de Alencar, com libreto inicial do poeta Antonio Scalvini, concluído por Carlo d'Orneville. O sucesso e impacto de O Guarani levou o compositor e maestro Giuseppi Verdi ao comentário entusiasmado de que Carlos Gomes era de fato um "vero genio musicale". Depois de encenada 12 vezes no Scala, a ópera percorre toda a Europa com grande sucesso. Com ela, pela primeira vez, nascia o Brasil para o mundo musical . Em 2 de agosto, Carlos Gomes regressa ao Brasil como um verdadeiro herói, e prepara sua ópera – já com a famosa protofonia, não apresentada na Europa, e que se tornaria como um segundo hino nacional – no Teatro Lírico Fluminense, no dia 2 de dezembro, em homenagem ao aniversário de Dom Pedro II. Carlos Gomes foi, sem dúvida, o maior compositor das Américas no século XIX.

Antônio Carlos Gomes

1875 Diretamente da então Cidade Nova e dos lendários cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, nasce o maxixe – a primeira dança de par e gênero musical modernos genuinamente brasileiros. Ele surge da mistura do lundu com o tango argentino, a habanera cubana e a polca. O maxixe foi considerado tão escandaloso e polêmico quanto o lundu há quase 100 anos atrás pela extrema sensualidade de sua dança e pelo uso freqüente da gíria carioca quando cantado. A complexidade de seus passos parafusos, quedas, saca-rolha, balão, corta-capim, carrapeta (etc.), marcaria o fim do gênero musical em meados do século seguinte. Detalhe: as quadrilhas se transformam em exclusivas e pitorescas danças folclóricas de São João.

1880 No Rio de Janeiro, acontece a época áurea dos 'entrudos' (do latim introitus), uma herança genuinamente portuguesa dos primeiros blocos de foliões de rua (formados pela população migratória rural nordestina) que antecede e prenuncia o surgimento dos blocos de carnaval, inicialmente conhecidos como cordões. Os arruaceiros entrudos não são bem aceitos – pela nova sociedade carioca que se estabelece – pela violência de suas manifestações, cujos participantes esguicham jatos d'água em bisnagas, jogam baldes d'água, limões de cheiro e atiram farinha na cara dos transeuntes como forma de diversão.

1880 Surge o choro (chorinho), no Rio de Janeiro, através de pequenos grupos instrumentais formados por modestos funcionários dos Correios e Telégrafos, da Alfândega e da Estrada de Ferro Central do Brasil, que se reúnem nos subúrbios cariocas com suas flautas, cavaquinhos e violões. A mágoa e a nostalgia deram o nome ao gênero, sendo a improvisação sua condição básica. No começo da República, outros instrumentos seriam incorporados. As festas das quais os chorões participavam já eram chamadas de pagodes. Os músicos Joaquim Antônio da Silva Calado (1848-1880) e o flautista Viriato Figueira da Silva (1851-1883) são dois de seus criadores. Outros grandes chorões: Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Anacleto de Medeiros (1866-1907), Irineu Batina (1890-1916), Mário Cavaquinho (XIX-XX), Sátiro Bilhar (?-1927), Candinho Trombone (1879-1960), Ernesto Nazaré (1863-1934) e Pixinguinha (1897-1973). Esta é também a época das serenatas de fins de noite.

Viriato Figueira da Silva

1889 Antecedendo o surgimento das orquestras, é a época do apogeu das bandas e fanfarras da República Velha como a Banda do Corpo Policial da Província do Rio de Janeiro, a Banda do Corpo de Marinheiros, a Banda da Guarda Nacional, a Banda do Batalhão Municipal, a popular e sempre simpática Banda do Corpo de Bombeiros (dirigida por Anacleto de Medeiros [1866-1907]) e a Banda do Batalhão Municipal.

1890 Surge o frevo em Recife, Pernambuco. Um dos mais importantes gêneros musicais e danças do país. O frevo nasce da polca-marcha e tem sua linha determinada pelo capitão José Lourenço da Silva (Zuzinha), maestro ensaiador das bandas da brigada militar de Pernambuco. Como dança de multidão, o ritmo é frenético e contagiante, de coreografia individual improvisada e inspirada na capoeira, apoiada no uso de sombrinhas e guarda-chuvas. Detalhe: no Rio de Janeiro, a população atingia a marca de 522.651 habitantes.

1899 No Rio de Janeiro, por solicitação dos crioulos integrantes do cordão Rosas de Ouro, a pioneira compositora carioca de classe média Chiquinha Gonzaga (1847-1935) – a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil (em 1885) –, compõe a primeira marcha carnavalesca da história da música brasileira chamada "Ô Abre Alas", um enorme sucesso e de grande influência na consolidação das bases iniciais da música popular brasileira.

Chiquinha Gonzaga

1900 Depois de um longo período de recusa e hostilização por parte da elite brasileira, os rituais e – principalmente – os ritmos do candomblé e umbanda são oficialmente aceitos como parte integrante da cultura brasileira. Preservam-se as músicas, escalas musicais, instrumentos como agogô, cuíca, atabaque, e suas ricas bases polirítmicas. O Brasil republicano continua recebendo a primeira grande e importante leva de imigrantes europeus e asiáticos como italianos, alemães, japoneses, libaneses, aumentando a miscigenação e a influência musical desses povos em sua música.

1902 Acontece a primeira gravação para um disco brasileiro, com o famoso tema lundu intitulado "Isto É Bom", escrito pelo músico baiano Xisto Bahia (1841-1894) e cantado por Baiano (Manuel Pedro dos Santos, 1870-1944), para a gravadora Casa Edison.

1910 Respectivamente, são construídos os dois dos mais importantes teatros no Brasil – o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e o Teatro Municipal de São Paulo.


Teatro Municipal do Rio de Janeiro


Teatro Municipal de São Paulo

1913 Em São Paulo, registra-se uma modalidade de samba tipicamente paulista – herdeiro do batuque – chamado Samba-de-Pirapora, ou Samba-de-Campineiro, principalmente em quatro importantes centros urbanos da capital como na Barra Funda, Bela Vista (no Bexiga) – nas festas de Nossa Senhora de Achiropita, no dia 15 de agosto, na Rua 13 de Maio –, na baixada do Glicério e Bosque da Saúde. A cidade de Pirapora foi o mais importante centro de encontro e difusão do samba paulista – nas festas de Bom Jesus, no mês de agosto –, também conhecido como samba-de-bumbo, onde reuniam-se numerosos músicos predominantemente negros vindos de Campinas, Barueri, Tietê e cidades vizinhas. Diferente do Rio, em São Paulo, não se usava o samba para os desfiles de carnaval dos cordões e ranchos, mas sim as marchas-ranchos e o choro. Os paulistas somente aderem ao samba, no carnaval, no fim dos anos 20.

1914 Em São Paulo, no dia 12 de março, é fundado o Grupo Carnavalesco Barra Funda, precursor da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, que também ia regularmente aos encontros e festejos de Pirapora, no interior do estado. O pioneiro grupo paulista tinha apenas doze integrantes vestidos de camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha – tocavam um pandeiro e chocalhos de madeira com tampinhas de garrafas de cerveja. Durante a Primeira Grande Guerra, e pela primeira vez em sua história, a música brasileira chama a atenção da Europa com o estilo embrionário e provocativo do samba – o maxixe –, que se torna um dos maiores sucessos de dança no velho continente até 1922.

Embora tenha surgido desde meados do século passado, é somente neste ano que as chamadas canções sertanejas se popularizam entre as classes média e alta, a partir da toada "Cabocla di Caxanga", de João Pernambuco (1883-1947) e Catulo da Paixão Cearense (1886-1946), dois dos maiores nomes na história do gênero.

A partir de 1920, o termo é designado por compositores profissionais urbanos para identificar as estilizações de ritmos rurais que abrangiam modas, toadas, cateretês, chulas, batuques e emboladas. De acordo com os primeiros estudiosos do estilo, música sertaneja poderia também compreender o xaxado, o baião e toda manifestação musical das regiões Norte-Nordeste, produzida no sertão e longe da cultura das grandes cidades. O gênero ficaria fortemente associado ao estilo caipira das modas de viola. Dos pioneiros da música sertaneja de raiz, ou música caipira, destacam-se Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana ("Índia"), Inezita Barroso, Pena Branca e Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Matogrosso e Matias, Irmãs Galvão, os comediantes Jararaca e Ratinho, Cornélio Pires, Ariovaldo Pires, Raul Torres, Teixeirinha ("Churrasquinho de Mãe") e outros.


Tonico & Tinoco

1917 Considerado o nascimento oficial do samba, a gravação de "Pelo Telefone", de Donga (1889-1974) e Mauro de Almeida (1882-1956), na voz de Bahiano, alcançou enorme sucesso nacional e estabeleceu novos padrões para as canções de carnaval. Este típico samba carioca, que mistura maxixe com frases rítmicas do folclore baiano, mais tarde espalha-se pelo Brasil e domina o carnaval. Nessa fase, os principais compositores são Sinhô (1888-1930), Ismael Silva (1905-1978) e Heitor dos Prazeres (1898-1966). A partir da década de 20, surgem vários e diferentes tipos de samba. No carnaval da época, o compositor, instrumentista e arranjador Pixinguinha (1897-1973) grava o seu primeiro disco, de maxixes, pela Odeon. Ele é o músico mais importante a estabelecer as bases da música popular e do choro, um recém-criado estilo de música brasileira instrumental (1880) com características de improvisação semelhante à do jazz.

1920 No Rio de Janeiro, quase no final da década, surgem as primeiras escolas de samba, que já haviam sido esboçadas desde o surgimento dos entrudos, dos ranchos carnavalescos e dos cordões fantasiados. A primeira escola de samba – a Deixa Falar – surgiu no Largo do Estácio, no antigo Rio. Surgem também os primeiros moradores das favelas cariocas e do assim chamado 'samba do morro'. Popularizam-se no Rio, e em São Paulo, o gramofone, as vitrolas, as orquestras de cinema mudo, posteriormente o próprio cinema falado e – principalmente – as primeiras gafieiras que tocavam sambas, maxixes, marchas, jazz e valsas. Logo surgiriam as jazz-bands brasileiras como a Orquestra Pan-Americana, American Jazz-Band, de Silvio de Sousa, Jazz-Band Sul-Americana, de Romeu Silva e outras mais. Tudo isso impulsiona em muito a divulgação da música brasileira.

Antecedendo a bossa nova, surge o samba-canção, um tipo mais lento, melancólico e romântico, orquestral e instrospectivo do gênero, também conhecido como samba de meio do ano, ou seja, aquele lançado depois dos sambas de carnaval. Sob forte influência do bolero, o samba-canção se firmaria mesmo a partir de 1930. Seus primeiros compositores foram Joubert de Carvalho, Henrique Vogeler, Heckel Tavares e Sinhô. Os maiores intérpretes são Francisco Alves, Orlando Silva, Dolores Duran, Marlene, Isaura Garcia, Elizeth Cardoso, Zezé Gonzaga, Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto, Angela Maria e Maysa. O primeiro grande sucesso do gênero é "Linda Flor" (Ai, Ioiô), de 1929, composta por Vogeler, Luís Peixoto e Marques Porto, gravado por Vicente Celestino e Araci Cortes. Outros como "Último Desejo", de Noel Rosa; "Eu Sinto Uma Vontade de Chorar", de Dunga; "Menos Eu", de Roberto Martins e Jorge Faraj – e muitos mais.

Noel Rosa

1922 Na polêmica e então contestada Semana de Arte Moderna de 22, idealizada inicialmente por Graça Aranha e Ronald de Carvalho, mais precisamente entre 11 e 18 de fevereiro, no Teatro Municipal de São Paulo, um dos fatos marcantes do irreverente movimento de cunho antropofágico nacionalista, que buscava, numa primeira tentativa no país, uma identidade própria para a cultura brasileira, foi a apresentação do compositor erudito-popular e regente carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959), diante da orquestra, trajado a rigor mas calçando chinelos, interpretado como ato de ousadia quando, na verdade, estava doente de um pé.

1926 Em novembro, no Teatro Municipal de São Paulo, acontece o famoso recital da paulista Guiomar Novaes (1894-1979), magnífica pianista de impressionante carreira internacional que durante anos fez contraponto com a colega erudita carioca Magdalena Tagliaferro (1894-1986) – outra espetacular pianista de projeção mundial. Guiomar Novaes já havia sido um dos grandes destaques na Semana de Arte Moderna de 22, interpretando Villa-Lobos, no mesmo Teatro Municipal de São Paulo.

A mais importante soprano lírica da história da música brasileira – Bidu Sayão (1902-1998) – rouba a cena da temporada no Teatro Municipal de São Paulo e abre a temporada lírica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ela começava a pronunciar-se com o requinte e a beleza que a tornariam uma estrela internacional durante décadas.

Bidu Sayão

Em 1935, seria escolhida pelo lendário regente Arturo Toscanini (1867-1957) a integrar a Orquestra Filarmônica de Nova York. Em 1938, cantaria para o Presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, na Casa Branca, em Washington D.C. Em 1995, seria homenageada pela escola de samba carioca Beija-Flor, de Nilópolis.

1930 Acontece o primeiro grande sucesso do sambista carioca de Vila Isabel Noel Rosa (1910-1937) – "Com Que Roupa", já com toda sua proverbial verve crítica e humorística sobre a vida carioca, marca registrada de toda sua obra. Em 1931, viriam "Eu Vou Pra Vila", "Gago Apaixonado", "Malandro Medroso" e "Quem Dá Mais". Em 1932, conheceria o compositor Vadico, um de seus mais importantes parceiros, com quem faria alguns de seus maiores sambas como "Feitio de Oração" (1933), "Feitiço da Vila" (1934), "Conversa de Botequim" (1935) e muitas outras. Sua maior intérprete seria mesmo a cantora 'malandra' Araci de Almeida (1914-1988), desde 1935, sendo que ela, ao regravá-lo em 1950, traria à luz a importância incontestável desse monumental sambista. De saúde muito debilitada durante sua vida inteira, Noel Rosa morreria jovem, aos 26 anos, no dia 4 de maio de 1937, mas deixaria um impressionante repertório de 230 composições. É um nome obrigatório no registro da história da música popular brasileira. Época áurea do rádio com seus populares programas ao vivo de música de auditório, no Rio de Janeiro, com Ary Barroso (na lendária Rádio Mayrink Veiga), e outros em São Paulo – e as disputas acirradas entre orquestras, os 'cantores do rádio' (Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e demais) e as 'rainhas do rádio', sendo as cantoras Emilinha Borba e Marlene as maiores. Ao mesmo tempo em que a época do rádio marcaria o declínio do choro, esse estrondoso fenômeno musical de massa teria a sua própria decadência com o fim da era das grandes orquestras no Brasil e a chegada da televisão, em 1950.

Ary Barroso

1938 Período em que o compositor e regente Heitor Villa-Lobos (1887-1959) compõe a Bachiana no. 5 – da célebre série de 9 – para canto e orquestra de violoncelos, sendo esta a mais admirada e tocada de todas, tendo sido, por vários anos, um dos discos mais vendidos nos Estados Unidos. Na época, porém, foi muito atacado pelos críticos brasileiros por este conjunto de obras inspiradas na atmosfera musical de Johann Sebastian Bach (1685-1750), considerado pelo autor um manancial folclórico universal, intermediário de todos os povos. Os críticos consideraram As Bachianas um recuo na obra de quem havia escrito os famosos 14 Choros – escritos de 1920 a 1929 –, obras compostas na inspiração de suas longas viagens por quase todo o Brasil (e seus sertões), durante anos, e por sua paixão e convivência prolongada com os "chorões" cariocas. Ainda que As Bachianas representassem uma valiosa experiência de justaposição de certos ambientes harmônicos e de contrapontos de algumas regiões do Brasil ao estilo de Bach, os Choros foram tidos como um rico material inato para a criação da música autenticamente brasileira. Mas, por toda sua gigantesca obra deixada e seus empreendimentos didáticos sociais, Villa-Lobos é considerado o mais importante gênio musical do continente, no século XX, dotado de uma chama criadora extraordinária que atravessou fronteiras, empolgou críticos e multidões, superando todos os preconceitos.

1939 A primeira e mais importante música exportada aos Estados Unidos e Europa é "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso (1903-1964), e que inaugura o gênero samba-exaltação. A música foi gravada por Araci Cortes e depois por Cândido Botelho e Francisco Alves. O Estado Novo ditatorial e nacionalista de Getúlio Vargas, que muito apreciou esse novo tipo de samba, por motivos óbvios e pelo alcance internacional, passa a recomendar aos compositores populares que abandonem o tema da malandragem carioca em suas músicas. Inspirado na típica figura do Rio de Janeiro, e a partir da 'política de boa vizinhança americana', o desenhista Walt Disney viria ao Brasil criar o personagem Zé Carioca.


Francisco Alves

1940 No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, acontece a primeira regência do maestro e compositor cearense Eleazar de Carvalho (1912-1996). Em julho de 1943, fez sua estréia como regente, no Teatro Municipal de São Paulo, que foi outro grande acontecimento destinado a entrar para a história. Graças ao seu empenho e dedicação, Eleazar teria mais tarde seu nome profundamente ligado ao Teatro Municipal de São Paulo, por décadas.

1941 A cantora, atriz e bailarina, nascida em Portugal, Carmem Miranda (1909-1955) é a primeira grande artista brasileira a atingir sucesso internacional. Além de atuar e cantar sambas vestida de baiana estilizada com uma fruteira tropical como chapéu, lançando moda nos Estados Unidos como a Brazilian Bombshell do momento, Carmem Miranda foi um dos maiores ícones mundiais da época, participando, em Hollywood, de filmes como "Serenata Tropical" (Down Argentine Way, de Irving Cummings, 1940), "Uma Noite No Rio" (That Night In Rio, de Irving Cummings, 1941), "Entre a Loura e A Morena" (The Gang's All Here, de Busby Berkely, 1943), "Copacabana", ao lado de Groucho Marx, de Alfred E. Green, 1947 – e outros mais.

1943 Em Hollywood, o cineasta e desenhista norte-americano Walt Disney inclui a música "Aquarela do Brasil" , de Ary Barroso, alterando o título para "Brazil", e versão em inglês, com grande sucesso em seu desenho, "Alô Amigos" (Saludo Amigos). O samba-exaltação torna-se praticamente um segundo hino brasileiro e abre definitivamente as fronteiras do mundo para a música brasileira.

1946 A música "Baião", do pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) – com letra de Humberto Teixeira –, desponta de Norte a Sul do país com a força de um novo estilo musical revolucionário urbano derivado da música de raízes rurais e folclóricas nordestinas. No começo dos anos 50, Luiz Gonzaga é o grande responsável pelo nascimento do baião e por abrir caminho para novos nomes da música nordestina e influenciar a música popular do Sul-Sudeste do país nos anos 60-70. Até o surgimento da bossa nova, o baião foi o gênero musical brasileiro mais influente no exterior.

Luiz Gonzaga

1950 Muitos afirmam que a vindoura bossa nova nasceria das reuniões de músicos, como Johnny Alf e João Donato, que participavam das chamadas samba sessions, no Sinatra-Farney Fan Club, no Rio de Janeiro. Das jam sessions na boate Plaza, em Copacabana, a partir de 1955, com Luiz Eça, Milton Banana, Alf, Donato e outros. O termo bossa nova, derivado da popular gíria carioca 'bossa', já era conhecido desde os anos 40. No Rio de Janeiro, proliferam-se as recentes boates onde pequenos conjuntos instrumentais fazem as primeiras misturas de jazz e samba.

1955 Com fortes ecos dos Estados Unidos e Inglaterra, o rock'n'roll aterrisa incipiente no país através de versões, quando Nora Ney grava a versão "Rock Around The Clock". A primeira grande estrela do gênero é Celly Campelo (1942-) com os hits "Estúpido Cupido" e "Banho de Lua" já no início dos anos 60. O rock'n'roll populariza-se com outras versões de sucessos norte-americanos, por Nick Savóia e Ronnie Cord (1943-). Outros nomes são Tony Campello, irmão de Celly, Wilson Miranda, Sérgio Murillo e demais. Logo depois, seria totalmente absorvido e adaptado pelo movimento jovem guarda. Em maio, com a gravação de "Saudosa Maloca" pelo grupo Demônios da Garoa, Adoniran Barbosa (1910-1982) firma o seu estilo peculiar que o tornaria célebre como o mais fiel cronista das camadas populares paulistanas, inspirando-se no linguajar dos diferentes grupos de imigrantes, predominantemente o italiano. Outros grandes sucessos de Adoniran Barbosa foram: "O Samba do Arnesto" (com Alocim), "Tiro Ao Álvaro" (com Osvaldo Moles), e o enorme sucesso de "Trem das Onze", de 1964, novamente com os Demônios da Garoa. Em 1974, lançou seu primeiro LP solo como cantor. É tido como o maior compositor popular da capital de São Paulo, e recebeu grande homenagem, em 1980, num show com Elis Regina, Djavan, Clementina de Jesus, Clara Nunes, MPB-4, Carlinhos Vergueiro, Gonzaguinha, Vânia Carvalho, e os grupos Talismã e Nosso Samba. A indústria fonográfica brasileira já representa um dos mais importantes segmentos econômicos do país – começa-se a instituir a pesquisa de mercado para aferição do gosto público.

Demônios da Garoa

1958 O disco da cantora Elizeth Cardoso, 'Canção do Amor Demais', com a primeira gravação do futuro clássico "Chega de Saudade" (Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes), e participação especial do baiano João Gilberto no violão, inaugura oficialmente a bossa nova. Mas, seis meses depois, no dia 10 de julho de 1958, o tema surgeria em sua forma definitiva no disco de 78 rpm de João Gilberto – "Chega de Saudade" – já com o seu violão revolucionário (também conhecido como "violão gago") e seu jeito realmente bossa nova e pioneiro de cantar.

1959 A primeira introdução internacional da bossa nova acontece através da trilha sonora do filme "Black Orpheus" - a partir da suite musical de Vinícius de Moraes -, do diretor francês Marcel Camus, vencedor do grande prêmio do Festival de Cannes e Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, no mesmo ano.

História da Música Brasileira - De 1960 a 2000

1960 Pela primeira vez na história da música brasileira, surge o termo MPB – Música Popular Brasileira – empregado por Ary Barroso na contra-capa do disco 'Bossa Nova', de Carlos Lyra. De década a década, o termo MPB mudaria sua abrangência de estilos e ampliaria seu significado. Da elite de músicos dos anos 70 – com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Maria Bethânia, Milton Nascimento e outros – à hoje, o termo representa basicamente quase todo o tipo de música brasileira à exceção do pop-rock.

Popularizam-se as freqüências do público nos ensaios das escolas de samba, inclusive como forma das agremiações obterem algum tipo de renda fora da época dos desfiles com os seus patrocínios, para garantir parte dos custos de preparação das infra-estruturas durante o resto do ano, através da cobrança mínima dos ingressos por parte de algumas delas.

1962 Na quarta-feira do dia 21 de novembro, às 20h30, realiza-se no Carnegie Hall, em Nova York, Estados Unidos, o primeiro e lendário Festival de Bossa Nova (também introduzido como New Brazilian Jazz) com apresentação de João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo, Bola Sete, Sérgio Ricardo, Sérgio Mendes e outros. É o lançamento internacional oficial e em grande estilo da bossa nova com muita repercussão nos Estados Unidos e Brasil.


Tom Jobim

A primeira grande influência da bossa nova nos Estados Unidos, sucesso que populariza o gênero no país e credencia os americanos a adotarem o estilo, é o disco 'Jazz Samba', do guitarrista Charlie Byrd e do saxofonista Stan Getz. A bossa nova é a maior sensação norte-americana no começo dos anos 60, sendo suplantada apenas pelo surgimento dos Beatles.

1964 No ano do início da ditadura militar brasileira, acontece, no Rio de Janeiro, o histórico e militante show Opinião, com músicas do maranhense João do Vale (1934-1996) e direção de Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa. Foi nesse espetáculo, interpretando a música "Carcará" (João do Vale e José Cândido) que foi lançada a cantora baiana Maria Bethânia. Também participaram do evento Nara Leão (1942-1989) e Zé Kéti. O acontecimento foi um marco na história da música popular brasileira.

1965 Com estréia no mês de setembro, o cantor e compositor pop Roberto Carlos é o Rei da Juventude nacional na liderança do movimento Jovem Guarda, apresentando um programa semanal homônimo de televisão, na TV Record, na capital de São Paulo, ao lado de Erasmo Carlos, Wanderléa e convidados como Eduardo Araujo, Martinha, Rosemary, Ronnie Von, Antonio Marcos, Deny e Dino, Leno e Lilian, The Jordans, The Jet Blacks, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Os Incríveis e outros. O programa de TV terminaria em 1969. Enquanto gênero musical, a Jovem Guarda, que surge em 1963, também ficou conhecida como yê-yê-yê – a versão brasileira do rock mundial. O movimento foi responsável pela introdução da guitarra elétrica e instrumentos eletrônicos na nascente Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil – que seria uma das causas do fim da Jovem Guarda, suplantando-a em popularidade.

Roberto Carlos

A grande era dos festivais. A extinta TV Excelsior produz o primeiro Festival de Música popular Brasileira. Nos dois anos seguintes, a TV Record realiza outros dois. Também os Festivais Universitários de Música Popular Brasileira, da TV Tupi, do Rio de Janeiro. Da soma deles, surgem nomes como Elis Regina (com "Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moares), Edu Lobo (com "Ponteio", dele e de Capinam), Caetano Veloso (com "Alegria, Alegria", dele mesmo), Gilberto Gil (com "Domingo no Parque", dele mesmo), Gal Costa (com "Divino Maravilhoso", de Caetano), Os Mutantes (com "Dois Mil e Um", de Rita Lee e Tom Zé), Chico Buarque de Hollanda (com "A Banda" e "Roda Viva", dele mesmo), Milton Nascimento (com "Cidade Vazia", de Baden Powell e Lula Freire), Tom Zé (com "São Paulo, Meu Amor", dele mesmo), Paulinho da Viola (com "Sinal Fechado", dele mesmo), MPB-4 e outros. Com o crescimento e expansão da televisão no Brasil, grandes ídolos da nova música popular brasileira se afirmam. Depois de uma série, a TV Globo seria a última emissora a produzir os últimos festivais no país – sendo o derradeiro, o VII Festival Internacional da Canção, em setembro de 1972, com Maria Alcina cantando "Fio Maravilha", de Jorge Ben.

Com a repressão e censura instauradas pelo regime militar, configura-se o espírito para o surgimento das músicas de protesto, posteriormente nos festivais, sendo Chico Buarque de Hollanda o compositor mais importante e representativo desse tipo particular de expressão musical, com "Apesar de Você" (1970), "Construção" (1971), "Deus Lhe Pague" (1971). Outro a se ressaltar é o compositor e cantor Sérgio Ricardo, que, inclusive, em 1967, tomou parte no Festival da Canção de Protesto, realizado na Bulgária, onde suas músicas foram interpretadas por Geraldo Vandré. Por sua vez, Vandré atingiu o ponto máximo de sua carreira de cantor e compositor com a então clássica e polêmica canção "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", ou "Caminhando" (1968), defendida no III Festival Internacional da Canção, e que se tornou uma espécie de hino estudantil na época.


Chico Buarque

Dezembro, sob violentos protestos, o visionário maestro Diogo Pacheco abre definitivamente as portas do Teatro Municipal de São Paulo para a MPB com o espetáculo 'Vinícius, Poesia e Canção', com a participação do próprio Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Baden Powell, Carlos Lyra, Ciro Monteiro, Pixinguinha e Francis Hime.

O cantor e compositor carioca Jorge Ben (atualmente, Jorge Ben Jor) atinge grande sucesso nos Estados Unidos. Ele é convidado pelo Ministério das Relações Exteriores a se apresentar nos Estados Unidos, durante três meses, em clubes e universidades. Lançadas por Sérgio Mendes, as músicas "Mas Que Nada" e "Chove Chuva" chegam às paradas de sucesso americanas. Em seguida, suas músicas "Nena Naná" e "Zazueira" são gravadas por Jose Feliciano e Herp Albert, respectivamente – enquanto, no Brasil, sua carreira enfrentava certas dificuldades. Em 1970, no Midem, em Cannes, Jorge Ben Jor seria muito aplaudido por sua música "Domingas". Em 1972, realizaria temporadas em Portugal, Itália e Japão, onde gravaria um disco ao vivo. Em 1975, realizaria uma única apresentação no Teatro Sistina, em Roma, Itália, transmitida ao vivo pela televisão italiana. Ainda nos anos 80, se tornaria muito popular no exterior.

Jorge Ben Jor

1967 Tom Jobim grava com Frank Sinatra o álbum americano 'Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim', em que Sinatra interpreta alguns dos maiores sucessos da bossa nova de autoria de Jobim. O disco é um dos grandes marcos na história da bossa nova e da música popular brasileira. Detalhe: por ciúmes, Sinatra não permitiu que Tom Jobim tocasse piano por ser então o instrumento que mais prestígio dava aos músicos norte-americanos – por isso, Tom tocou violão, seu segundo instrumento.

1968 Após a bossa nova, vários músicos brasileiros incorporam o jazz em suas músicas. Buscando um formato brasileiro estão o saxofonista Paulo Moura, a pianista Eliane Elias, a cantora Flora Purim, Airto Moreira, Leo Gandelman, César Camargo Mariano, Victor Assis Brasil (1945-1981) – um dos maiores saxofonistas de jazz do país –, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, André Geraissati, Zimbo Trio e outros. A dificuldade em se situar a atuação do jazz no Brasil está no fato dele aparecer diluído no conceito abrangente de música instrumental.

Com o lançamento do disco 'Tropicália – Panis Et Circenses', com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat, o tropicalismo é oficialmente reconhecido como manifesto e nova proposta musical, inspirado na tese antropofágica da Semana de Arte Moderna de 22, possibilitando o desdobramento do movimento em trabalhos individuais de seus principais protagonistas em releituras e novas perspectivas para a música brasileira. Participaram do movimento, Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, os maestros arranjadores Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Pela defesa da música brasileira, o tropicalismo incorporou, com muita polêmica, o uso da guitarra elétrica, de gêneros como o bolero, o carnaval, as músicas de raiz e elementos do rock. O nome Tropicália foi extraído por Caetano de uma instalação do artista plástico Hélio Oiticica. Em São Paulo, institucionaliza-se oficialmente os desfiles das escolas de samba.

Caetano Veloso

1970 Passado o fenômeno do rock'n'roll dos anos 60, e graças à bossa nova, jovem guarda e tropicália, estabelecem-se os grandes nomes de uma chamada MPB mais moderna com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Maria Bethânia, Vinícius de Moraes, Toquinho, Elis Regina, Milton Nascimento e outros. A maior parte deste segmento permanece em evidência.
No começo dos anos 70, surge também uma importante geração intermediária de novos nomes da MPB que continuariam a fazer trabalhos de renovação da música popular brasileira durante o começo do século XXI, tais como Djavan, Fafá de Belém, Fagner, Belchior, Alceu Valença, Zé Ramalho, Morais Moreira, Baby Consuelo (atual Baby do Brasil), Pepeu Gomes, Elba Ramalho, e outros.

O início da década marca o amadurecimento da carreira da cantora gaúcha Elis Regina (1945-1982) – uma das maiores intérpretes brasileiras de todas as épocas. Depois de uma bem-sucedida apresentação na América Latina e Europa, Elis grava e passa a lançar uma série de músicas de grandes compositores-cantores até então desconhecidos, revelando-os nacionalmente, como Ivan Lins (com "Madalena", em 1970); João Bosco e Aldir Blanco (com "O Caçador de Esmeraldas" [1973], "Mestre-salas dos Mares" e "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" [1974]); Belchior, no show Falso Brilhante, de 1975, (com "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida"); e Renato Teixeira (com "Romaria", em 1977).

Elis Regina

No começo da década, surge no Rio de Janeiro um fenômeno que se caracterizaria como tipicamente carioca – os bailes funk. Os primeiros bailes aconteciam no Canecão, na Zona Sul, sempre aos domingos. Os "bailes da pesada", como eram conhecidos, foram espalhando-se para os clubes do subúrbio. Ouve-se James Brown ("Sex Machine", "Get On The Good Food", "Soul Power"), Kool and The Gang, Wilson Pickett e outros. Com a proliferação de uma multidão de dançarinos populares adeptos do movimento, trajados com roupas black de ocasião, cabelos afro, sapatos plataforma coloridos, surgiram as equipes como Soul Grand Prix, Black Power, Dynamic Soul, Furacão 2000, União Black. Surgem importantes nomes da funk music carioca como Gerson King Combo, Tony Tornado, Tim Maia, Sandra Sá, Cassiano, Robson Jorge, Rosa Maria e outros. O movimento espalha-se pelo país, com a Chic Show, em São Paulo; a Black Porto (RS) e a Black Uaí!, em Belo Horizonte. Mesmo à revelia da imprensa, os bailes funk do subúrbios cariocas entrariam em 2000 muito populares, mas já com grande influência da música e roupas hip-hop. Os cariocas proporcionam o funk melody, com batida mais rápida e semelhante ao rap; e o charme, um funk pós-disco mais sofisticado que a assim chamada 'estética do barulho' presente no hip-hop (rap).

1971 A hora e a vez dos mineiros. Com a música "Clube da Esquina", de autoria de Milton Nascimento com Lô Borges e Márcio Borges, inaugura-se o movimento de uma nova música mineira que revigoraria a canção popular brasileira do começo da década. Em torno de Milton Nascimento, e a partir de sua proposta, em 1972, ele lutaria por lançar um álbum duplo com praticamente todos os seus amigos e parceiros mineiros, incluindo o seu maior companheiro musical, o letrista Fernando Brant. Assim é lançado o álbum Clube da Esquina 2 – o nome já deixa bem claro a proposta fechada do grupo e de como eles se consideravam. Com o enorme sucesso de vendas do disco, Milton Nascimento torna-se definitivamente um êxito comercial e todos os seus amigos mineiros também. Dentre o seleto grupo citamos Lô Borges, Tavinho Moura, Márcio Borges, Wagner Tiso (e seu grupo Som Imaginário), Ronaldo Bastos e Beto Guedes. Cada um, individualmente, atingiria carreira de sucesso com discos e shows dentro e fora do Brasil. A música mineira é a grande sensação do momento.

Milton Nascimento

1972 Nos primeiros anos da década, acontece um surto de uma produção musical popular de cunho nacionalista, de exaltação das belezas naturais do país e da idéia básica de que "Deus é brasileiro" – muito ao gosto do ainda período militar –, numa tentativa quase ufanista de direita representada principalmente pela dupla Dom & Ravel com a música "Só O Amor Constrói", de 1971, e outro grande sucesso que Dom (Domingos Leoni) compôs (em 1970) para o então popular grupo de rock Os Incríveis – "Eu Te Amo Meu Brasil". Aproveitando a grande repercussão desses tipos de canções, Os Incríveis ainda gravariam (em 1971) um compacto simples com o "Hino Nacional" (Música de Francisco Manoel da Silva e letra de Osório Duque Estrada, adaptação vocal de Alberto Nepomuceno) e o "Hino da Independência do Brasil" (música de Dom Pedro I e letra de Evaristo Ferreira da Veiga).

1973 É o apogeu da carreira de Raul Seixas (1945-1989) – o maior roqueiro da história da música pop brasileira. Tendo começado profissionalmente dois anos antes, foi somente em 1973 que ele consegue o seu primeiro grande sucesso com "Ouro de Tolo", incluída em seu primeiro LP solo Krig-há, Bandolo!. No mesmo ano, viriam outros hits como "Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa", e "Al Capone" (com Paulo Coelho). Sua carreira se consolidaria com os três álbuns – Gitá (1974), Novo Aeon (1975) e Há Dez Mil Anos Atrás (1976). Outros grandes sucessos de Raul Seixas são: "Como Vovó Já Dizia" (com Paulo Coelho, em 1975), "Rock das Aranha" (em 1980) e "Cowboy Fora da Lei" (em 1987). Desfrutando de um dos maiores públicos da história da música popular brasileira, Raul foi o primeiro artista nacional a ter um disco organizado e lançado por um fã-clube, a coletânea de gravações raras 'Let Me Sing My Rock-and-roll', de 1985. Com o passar dos anos, sua importância e influência na música brasileira só se fariam aumentar.

Raul Seixas

1974 Época áurea de uma nova geração de grupos de rock brasileiros de variadas tendências como O Terço, de influências do rock progressivo com o guitarrista Sérgio Hinds como seu líder – que desembocaria no 14 Bis; do Joelho de Porco, com o seu som pré-punk anarquista cômico formado pelo popular baixista Tico Terpins; o Moto Perpétuo, formado pelo cantor e compositor Guilherme Arantes; o Casa das Máquinas, formado por Netinho, ex-Incríveis, o Som Nosso de Cada Dia; e o lendário Made In Brasil, formado por Oswaldo Vecchione e seu irmão Celso Vecchione, talvez o mais popular e roqueiro da época, dentre outros mais. Destaque para os Secos & Molhados (com Ney Matogrosso), o mais criativo grupo da década a misturar pop-rock com música brasileira, portuguesa e outras influências – sua curta duração (1971-74) atingiu grande sucesso nacional.

1975 A década também foi marcada por uma curiosa produção de música tipicamente norte-americana (no Brasil!) produzida por músicos brasileiros que adotaram nomes americanizados. Desde o grupo paulistano Pholhas (da Móoca) que cantava em inglês e português, ao grupo Light Reflections com o grande sucesso "Tell Me Once Again", que depois viraria comicamente "Telma Eu Não Sou Gay", com Ney Matogrosso; Tony Stevens (o Jessé) com os sucessos "Flying" e "If I Could Remember"; Christian (da dupla sertaneja Christian & Ralf) com o hit "Don't Say Goodbye"; o próprio Ralf, da mesma dupla, com o nome de Dom Elliot; Paul Bryan (Sérgio Sá) com "Listen"; a banda Lee Jackson, com "Hey Girl", grupo formado por músicos que hoje ocupam lugares de direção executiva em algumas grandes gravadoras no Brasil; o grupo Sunday, de Hélio Eduardo Costa Manso, com "I'm Gonna Get Married"; Fábio Jr., que adotou dois nomes americanos, Mark Davies e, depois, Uncle Jack, cantando "Don't Let Me Cry"; o grupo feminino Harmonie Cats, e até a cantora dançarina Gretchen, que começou cantando em inglês.
Paulinho da Viola, um dos maiores novos sambistas da época, e um dos poucos e mais importantes defensores do já esquecido choro, participa – junto com outros compositores e críticos – da criação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro.

1980 Em busca de novas alternativas musicais como resposta à já institucionalizada MPB, parte da elite da juventude brasileira de classe média provoca uma nova onda de rock e pop apoiada no movimento pós-punk new wave, que domina totalmente o cenário musical nacional com um forte movimento underground central deflagrado a partir de São Paulo.

Os pioneiros paulistanos desse importante movimento de negação pura da tradicional música popular brasileira foram Júlio Barroso e sua Gang 90, a primeira banda new wave brasileira Agentss, Verminose (de Kid Vinil) e Azul 29. Daí, surgem Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana (Renato Russo), Barão Vermelho (Cazuza e Frejat), RPM (Paulo Ricardo), Ultraje a Rigor, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii, Lobão, Biquini Cavadão, Ratos de Porão (João Gordo), Inocentes e outros. A proposta do movimento se esgotaria coincidindo com a projeção internacional da banda brasileira de hardcore Sepultura.


Engenheiros do Hawaii

Apesar do blues sempre ter sido muito mais absorvido pelos músicos brasileiros diretamente através do rhythm'n'blues pelas bandas de rock dos anos 60, o Brasil nunca se caracterizou por um forte cenário ou movimento de blues, apesar de ter um bom público consumidor. Dos anos 80 até 99, podemos destacar os maiores nomes do blues como Nuno Mindelis, André Christovam, Celso Blues Boy, e as bandas Blues Etílicos e Big Allambik.

1984 Antecedendo o surgimento da axé music, a lambada baiana torna-se um dos mais populares estilos de dança brasileira atual a misturar samba, maxixe e dança erótica. O maior sucesso é do grupo Kaoma com "Lambada", uma versão do tema latino "Llorando Se Fue", do grupo Los Kjarkas. Por falta de substância musical e limitação coreográfica, o gênero tem breve período, mas provoca uma onda de escolas temporárias da dança por todo o país. O sucesso internacional, quase que exclusivamente na Europa, é quase maior do que o atingido no próprio Brasil devido ao seu apelo exótico tipo-exportação.

Tanto assim que dois filmes norte-americanos foram realizados, em 1990, mas muito mal recebidos pela crítica internacional – foram eles "A Dança Proibida" (The Forbidden Dance, de Greydon Clark) e "Lambada", de Joel Silberg. No Rio de Janeiro, aposentando definitivamente a tradicional Av. Presidente Vargas como passarela dos desfiles das escolas de samba, é inaugurada a Passarela do Samba, na Av. Marques de Sapucaí, o Sambódromo carioca, pelo projeto do arquiteto Oscar Niemeyer.

Passarela do Samba

1985 Ainda no bojo da grande década do rock brasileiro, na segunda metade desse período, surge na capital de São Paulo, e pela primeira vez em toda América Latina, a grande novidade norte-americana do movimento hip hop com o rap, grafite e a breakdance, inicialmente comandada pelo pioneiro rapper brasileiro Thaide, seu parceiro DJ Hum e o DJ simpatizante Theo Werneck. A partir daí, com a aceitação gradual do novo movimento pela mídia, o hip hop cresceria firmemente em importância e novos nomes, atingindo um de seus apogeus nos anos 90.

A música "Fricote", do baiano Luiz Caldas, inaugura oficialmente o movimento axé music. O primeiro sucesso vem com "Eu Sou Negão", de Jerônimo, em 1986. Mas o primeiro fenômeno de vendas, que lança nacionalmente a axé music, acontece com o bloco afro-baiano Reflexu's, em 1987, com a música "Madagascar Olodum", que vendeu 750.000 cópias. A axé music é caracterizada pelo forte uso da percussão baiana como o repique, timbau e surdos. Em geral, as letras falam da sensualidade do corpo, do requebrar dos quadris e de danças, cheias de ironia e segundo sentido. O novo gênero viveria o seu apogeu até a segunda metade dos anos 90, quando começaria o seu declínio natural de acomodação. Os principais nomes são Asa de Águia, Chiclete com Banana, Daniela Mercury, Banda Eva, É O Tchan, Netinho e outros. Pela primeira vez na história da música brasileira quebra-se a hegemonia São Paulo-Rio.

1990 7 de julho. Morre Cazuza, um dos maiores ídolos pop da atualidade e um dos melhores cantores, compositores e letristas da história da música pop brasileira. Nascido em 4 de abril de 1958, Agenor de Miranda Araujo Neto adotou o apelido Cazuza em homenagem ao avô paterno – em Pernambuco, 'cazuza' significa molequinho. Trabalhou como ator no grupo Asdrubal Trouxe o Trombone, e foi apresentado por Leo Jaime ao grupo Barão Vermelho, que procurava um vocalista. Em 1985, deixou o grupo para seguir uma bem-sucedida carreira-solo. Seus maiores sucessos são "Exagerado", "Codinome Beija-Flor", "Faz Parte do Meu Show", "Bete Balanço", "O Tempo Não Pára", "Ideologia", "Brasil", "Só As Mães São Felizes" e outros mais. Foi o primeiro artista brasileiro a tornar público que estava com AIDS.

Cazuza

Em 20 de outubro, começa oficialmente as transmissões da MTV Brasil, importante emissora pop de marca internacional que passa a representar o segmento jovem da música mundial e da música brasileira através de seus consagrados formatos videoclipes. A partir de Março de 1999, a MTV Brasil passaria a dedicar boa parte de sua programação televisiva, principalmente em sua grade das 22h, à música popular brasileira – além do pop-rock – como o pagode, axé music e a tradicional MPB. A partir de 1996, a MTV Brasil instituiria a maior premiação anual de videoclipes no país através do Vídeo Music Brasil.

1992 Com o enfraquecimento e desarticulação do movimento pop-rock brasileiro e internacional do fim dos anos 80, surgem renovadas categorias musicais de forte apelo popular que predominam por toda a década no Brasil – como o dolente samba-pagode, a carnavalesca axé music e a nova música sertaneja de sotaque country americano – nessa ordem. Do pagode destacam-se os grupos Fundo de Quintal (tido como o criador do novo gênero), Raça Negra, Só Pra Contrariar, Art Popular, Katinguele, Negritude Jr. e centenas de outros. Da axé music, os mencionados no verbete aqui citado de 1985. Da nova música sertaneja, Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Daniel, Sandy & Junior, Gian & Giovanni, Christian & Ralf, e outros.


1993 O formato CD começa a suplantar o vinil em vendas. O ainda grande mercado de fitas cassetes existente no país é praticamente de controle total da pirataria. A partir de 1997, a produção de vinil é extinta, com as matrizes produtoras do velho formato sendo vendidas a outros países como à Argentina e Inglaterra. Por essa época, o Brasil começa a enfrentar uma forte e muito bem estruturada pirataria de CDs, vinda principalmente da Ásia e Paraguai, até então ignorada no país.

Surge uma nova geração de bandas de rock dos anos 90 como o Pato Fu, Skank, Raimundos, O Rappa, Jota Quest, o polêmico Planet Hemp, o grupo soul Fat Family, a dupla carioca Claudinho & Buchecha e demais. Há espaço para ritmos africanos, latinos e jamaicanos – como o reggae e o ska, que dão a base para grupos como Cidade Negra, Tribo de Jah, ex-Nativus e outros.

Jota Quest

1994 Surge o movimento mangue beat. É lançado o primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi, 'Da Lama Ao Caos', da banda mais inovadora e uma das mais representativas – e a mais popular – do movimento de Recife (Pernambuco). O disco é um marco no cenário pop da década. A mídia nacional se rende ao fenômeno. A partir de então, de olho na novidade, praticamente boa parte da produção pop da música brasileira começa a introduzir e a se apropriar dos tradicionais tambores de maracatu e do jeito peculiar hip-hop abrasileirado de Chico Science cantar. Outro grande expoente do movimento é o jovem músico pernambucano Fred Zero Quatro e sua banda Mundo Livre S/A. Junto com Chico, Fred é o autor do manifesto "Caranguejo Com Cérebro".

Surge o fenômeno internacional da world music. O Brasil mais uma vez dá a resposta, voltando-se para a riqueza de sua música nacional, redescobrindo os diversos sotaques da chamada música regional de seus estados, principalmente os do Norte-Nordeste (redescobrindo a Banda de Pífanos de Caruaru). A música brasileira recupera a sua energia criativa. Isso refortalece os grandes nomes da MPB e do samba que se preservaram durante os anos 80 e viram ídolos de uma nova geração como Gilberto Gil (em 94), Paulinho da Viola (em 95), Zeca Pagodinho (em 97), Caetano Veloso e Djavan (em 99). Grande parte do repertório tradicional esquecido da música popular brasileira se torna clássico, possibilitando inúmeros trabalhos de releituras – os chamados songbooks, principalmente através do trabalho pioneiro do músico e produtor carioca Almir Chediak com o seu selo Lumiar.

Djavan

Com uma repercussão internacional simplesmente impressionante, no mês de dezembro, morre Antonio Carlos Jobim (Tom Jobim), num hospital em NovaYork, aos 67 anos. Além de ser um dos criadores da bossa nova, é considerado um dos maiores compositores do século ao lado de Heitor Villa-Lobos, George Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. A importância de sua obra musical é tamanha que, no mundo todo, não há um músico de jazz sequer que não tenha em seu repertório alguns de seus temas, sob o risco de não ser considerado de primeira linha. Tanto assim que, no começo de 95, o amigo e prestigiado saxofonista norte-americano de jazz Joe Henderson lançou um álbum interpretando exclusivamente os maiores sucessos do maestro.

1995 Uma geração intermediária mais jovem de cantoras de MPB vive o seu momento máximo de afirmação, como Marisa Monte, Zizi Possi, Cássia Eller, Fernanda Abreu, Marina Lima, Leila Pinheiro, Paula Toller, Zélia Duncan, Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Mônica Salmaso e outras.

Marisa Monte

1996 O Brasil é oficialmente o sexto maior mercado fonográfico em vendas do mundo. 80% do consumo de CDs e do que se toca nas rádios é de música brasileira, invertendo o cenário predominante dos anos 80, em que a música pop norte-americana com Madonna, Michael Jackson e outros vendiam mais do que a música nacional.

No cenário da música pop brasileira atual, depois da morte de Cazuza, nenhum outro fato dessa natureza chocaria tanto o país quanto a morte de Renato Russo, também pelos sintomas da AIDS. Renato Manfredini Júnior nasceu no dia 27 de março de 1960 e adotou artisticamente o sobrenome inspirado no filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Renato foi o líder da banda Legião Urbana, o mais importante grupo de rock dos anos 80. Muito intelectualizado e um dos mais brilhantes letristas de sua geração, Renato ainda lançou alguns trabalhos solos como The Stonewall Celebration Concert (1993), em inglês; Equilíbrio Distante (1995), em italiano, e o CD póstumo O Último Solo, lançado em 1997.


1997 Afirma-se mais uma brilhante geração intermediária de novos nomes na música popular brasileira, de diferentes regiões e com algumas novas propostas de fusões da música Nordestina e folclórica, com a do Sul-Sudeste e a do mundo pop internacional. Nomes como Carlinhos Brown (BA), Arnaldo Antunes (SP), Chico César (PB), Zeca Baleiro (MA), Lenine (PE), Rita Ribeiro (MA), Paulinho Moska (RJ), Pedro Luís e A Parede (RJ), e outros. Morre Chico Science (PE), compositor e cantor, o principal fundador do movimento mangue beat e um dos criadores do manifesto "Caranguejos com Cérebro". Francisco de Assis França nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 13 de março de 1966. Quando menino, pescava caranguejos no mangue para vender. Freqüentava bailes funk da região. Trabalhou numa empresa de informática em Recife. Em 1991, formou a revolucionária banda Chico Science & Nação Zumbi. Em 1994, lançou o primeiro CD do grupo Da Lama Ao Caos. Em 1996, lançou o segundo disco da banda Afrociberdelia. Chico morreu num acidente automobilístico. Sua morte também teve um impacto internacional, sendo que ele e seu grupo estavam no melhor momento de uma bem-sucedida carreira na Europa e Estados Unidos.

Carlinhos Brown

Depois de mais de 10 anos de um movimento praticamente marginalizado pela mídia, o rap atinge firmemente setores da classe média. Nesse movimento hip-hop (com o grafite e a breakdance), destacam-se tanto artistas de classe média alta como Gabriel, O Pensador, quanto grupos vindos das violentas periferias das grandes cidades como Racionais MCs (SP) – o maior fenômeno do mercado independente com mais de 1 milhão de CDs vendidos –, Pavilhão 9 (SP), Faces do Subúrbio (PE), Planet Hemp (Rio), Nocaute (RJ), Detentos do Rap (da penitenciária do Carandiru, em São Paulo), Câmbio Negro (DF), Da Guedes (RS), Xis & Dentinho (SP), Marcelo D2 (Planet Hemp) – com contundentes críticas sociais. Boa parte da MPB e da música pop brasileira incorpora traços do rap em seus repertórios.

Quase no final da segunda metade dos anos 90, presencia-se uma certa corrida à chamada música pop eletrônica em alguns setores da música pop nacional, mas novamente mais como efeito de arranjos musicais, uma vez que o gênero tecno não admite vocal. Destacamos alguns nomes da chamada nova geração de produtores e performers de música eletrônica brasileira como os Friendtronics, Xerxes, Mau Mau, M4J, Marky, Tetine, X-Action, Lourenço Loop B, Ramilson Maia, Gismonti André, Fábio Almeida, Camilo Rocha e outros. À exemplo do que ocorre nas grande capitais do mundo há dez anos, o Brasil começa a viver o auge do culto aos DJs, que produzem as grandes festas ao ar livre chamadas de 'raves', ou em casas noturnas, e lançam CDs com remixagens e temas de suas preferências. A remixagem (o remix) é uma das manifestações mais modernas do momento.

1998 Ao recuperar-se de sérias complicações de saúde com diabete, Milton Nascimento, merecidamente, ganha o prestigiado Prêmio Grammy na categoria World Music por seu disco Nascimento (WEA), em 25 de fevereiro.

Depois de cinco anos de ausência do cenário musical, e sem lançar músicas inéditas num único álbum, Chico Buarque retorna com o lançamento do bem-recebido CD Cidades.

A música brasileira perde Tim Maia, um dos criadores e mestre da soul music tipicamente brasileira e um dos reis da nossa pop music. Gravemente hospitalizado desde o domingo do dia 8 de Março, o cantor e compositor Tim Maia faleceria no outro domingo, dia 16 de março, no Hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói, Rio de Janeiro, às 13h03. Sebastião Rodrigues Maia, o Tim, tinha apenas 55 anos, pesava 140 quilos. Alguns de seus maiores sucessos como "Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)", "Gostava Tanto de Você" ou "Me Dê Motivo". Tim, que lançou Roberto e Erasmo Carlos (a quem ensinou a tocar violão), e que começou a fazer muito sucesso nos anos 70, caiu num certo esquecimento nos 80, e começava a crescer novamente nos anos 90.

Tim Maia

Inesperadamente, o país é tomado de assalto pelo estranho fenômeno dos padres carismáticos cantores. O padre Marcelo Rossi lança o seu primeiro CD de canções e coreografias religiosas, atingindo a impressionante marca dos 3 milhões de exemplares vendidos. Aproveitando a oportunidade de mercado, outros padres viriam à reboque explorar o novo filão populista.

Caetano Veloso consegue uma façanha jamais realizada em toda sua longa bem-sucedida mas, muitas vezes, atribulada carreira. Grava a música "Sozinho", de Peninha, no CD ao vivo Prenda Minha, e vende 1 milhão e meio de CDs e é o mais tocado nas rádios de todo o país, de Maio a Julho.

1999 Gilberto Gil recebe o Grammy para o Brasil, na cada vez mais importante categoria World Music, para o seu disco ao vivo 'Quanta Gente Veio Ver', de 1998 (WEA), em inglês, 'Quanta Live'. Na verdade, Gil estava torcendo mesmo para a sua amiga, a cantora caboverdiana Cesária Évora. O Grammy é o Oscar da indústria fonográfica norte-americana, a Academia de Artes e Ciências da Gravação dos EUA, transmitido por TV para 1,5 bilhão de pessoas, em 180 países.

Através de David Byrne, seu selo Luaka Bop, e o músico pop norte-americano Beck, os Estados Unidos interessam-se pela Tropicália através da coletânea The Best of Os Mutantes – Everything is Possible, com grande repercussão na imprensa internacional. Byrne afirma que a música brasileira deve crescer nos Estados Unidos. A imprensa americana e inglesa dedicam extensas matérias sobre um dos mais importantes movimentos musicais do Brasil, ocorrido há mais de 30 anos atrás. Com isso, recobra-se também o interesse pelo músico Arnaldo Dias Baptista – o mais importante dos Mutantes – com muitas matérias a seu respeito e um CD intitulado 'Arnaldo Dias Baptista – Revisitado Novamente', lançado pelo selo Dabliu.

Estilos Musicais de A - C

Afoxé

Trata-se de mais um ritmo afro presente na cultura local. De origem iorubá, a palavra afoxé poderia ser traduzida como "a fala que faz". Para alguns pesquisadores seria uma forma diversa do maracatu. O termo Afoxé da África denota a festa profano-religiosa efetuada pela nação no momento oportuno. A expressão afoxé teve uso restrito, apenas entre os seus participantes, já que os autores dedicados ao estudo do maracatu não a registram.
Três instrumentos básicos fazem parte desta manifestação. O afoxé (ou agbê), cabaça coberta por uma rede formada de sementes ou contas, é percutido agitando-se a rede, que fricciona no corpo da cabaça. Os atabaques, basicamente de três tipos, com três tamanhos diferentes que em conjunto traduzem o som do ijexá, tocado no afoxé atualmente. O agogô, formado por duas campânulas de metal, com sonoridades diferentes, é quem dita o ritmo aos demais instrumentos.
As melodias entoadas nos cortejos dos afoxés são praticamente as mesmas cantigas ou orôs entoados nos terreiros afro-brasileiros que seguem a linha jexá. O Afoxé, longe de ser, como muita gente imagina, apenas um bloco carnavalesco, tem profunda vinculação com as manifestações religiosas dos terreiros de candomblé. Vem daí o fato de chamar-se o afoxé, muitas vezes, de "Candomblé de rua". Inclusive por homenagear um orixá, geralmente, o orixá da casa de candomblé a que pertence. Em Pernambuco, o afoxé ressurge com o Movimento Negro Unificado no final da década de 70, como uma das formas de se fazer chegar à maioria da população, o debate sobre consciência negra e liberdade, através da música.




Baião

O baião é uma espécie de coreografia desenvolvida ao mesmo tempo em que se canta ao som deste ritmo, popular especialmente no Nordeste brasileiro. Ele provém de uma das modalidades do lundu – estilo musical gerado pelo retumbar dos batuques africanos produzidos pelos escravos bantos de Angola, trazidos à força para o Brasil.
A princípio ele era conhecido como baiano, por descender do verbo ‘baiar’, que popularmente se referia a ‘bailar’ ou ‘baiar’, expressões traduzidas no Brasil por bailar. Esta sonoridade foi gerada pelos nordestinos a partir de uma mistura da coreografia dos africanos com as cultivadas pelos nativos, somadas ainda à dança praticada na metrópole. Era, portanto, uma síntese cultural das três raças, muito exercitada ao longo do século XIX.
Na década de 40, especialmente depois de 1946, o baião ganhou novo impulso com a intervenção do genial sanfonista e compositor Luiz Gonzaga, assumindo uma nova tonalidade com a incorporação um tanto inconsciente das características do samba e das congas cubanas. Com esta nova feição este som transcendeu o próprio bolero, disseminou-se por todo o país e até mesmo cruzou os limites do país.
Somente no sul do Brasil o baião teve algumas pequenas modificações. Enquanto normalmente aquele que dança indica seu substituto na coreografia com uma umbigada, nesta região o dançarino escolhe outra pessoa estalando os dedos, simulando o toque de uma castanhola.
O principal instrumento a acompanhar o baião é a sanfona, muitas vezes complementada pelo agogô e o triângulo; com o passar do tempo tornou-se habitual o uso de uma orquestra. O grande êxito musical deste ritmo ocorreu com a gravação da música intitulada Baião, composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Nesta canção os autores convidam os ouvintes a descobrir de que forma se dança o baião, e destaca suas características originais. Gonzagão, como era conhecido, continua a compor outras músicas neste ritmo, e assim leva esta sonoridade ao ápice do sucesso.
Nos anos 50 vários cantores aderiram a este ritmo, entre eles Marlene, Emilinha Borba, Ivon Curi. Gonzaga era considerado o ‘Rei do Baião’, enquanto Carmélia Alves era a ‘Rainha’, Claudete Soares a ‘Princesa’ e Luiz Vieira o ‘Príncipe’.
O baião é sempre coreografado por pares, os quais desenvolvem os passos conhecidos como balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar e rodopio. As mulheres costumam se apresentar trajando vestidos de chita comum, adornados com babados nas saias e dotados de generosos decotes e mangas curtas. Elas normalmente calçam sandálias com muitas cores. Enquanto isso os homens usam calças claras de brim, camisas simples e sandálias de couro cru.
Depois de algum tempo mantido à margem da história musical, o baião ressurgiu no final da década de 70, graças ao resgate perpetrado por músicos do calibre de Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, entre outros. Além disso, este ritmo inspirou decisivamente o estilo tropicalista de Gilberto Gil e o rock de Raul Seixas, que unia estas duas sonoridades, batizando de Baioque o resultado desta fusão.

capa de disco de Luiz Gonzaga

Bossa nova

A bossa nova é um movimento da música popular brasileira surgido no final da década de 1950 na capital fluminense. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, especialmente associado a João Gilberto, Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim e Luiz Bonfá.
A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa novadécada seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas. passou a ser utilizada também na
Alguns críticos musicais destacam a grande influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de musicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova.


Charme

O termo "charmeiro" é utilizado para designar os apreciadores de uma vertente da Black Music (Música negra americana), conhecida popularmente no Brasil como "Charme", termo usado para o R&B Contemporâneo no Brasil, que se desenvolveu a partir do Urban.
Com uma vestimenta social, porém mantendo sempre o seu traço “black”, o charmeiro conserva seu perfil de um negro de bom gosto, romântico e inteligente.
As músicas deste estilo são compostas de forma específica. Elas têm, dentre outras características, um ritmo que é quaternário, muito bem delineado e marcado. Os arranjos são muito bem organizados e chamam a atenção. O trabalho vocal tende sempre a ter uma maravilhosa performance vocal do artista, o que não impede de haver determinadas músicas que não tenham vocal.



Choro

Quadro "Chorinho" de Cândido Portinari

O choro pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira.
Os primeiros conjuntos de choro surgiram por volta de 1880, no Rio de Janeiro —antiga capital do Brasil—, nascidos nas biroscas do bairro Cidade Nova e nos quintais dos subúrbios cariocas.
Esses grupos eram formados por músicos —muitos deles funcionários da Alfândega, dos Correios e Telégrafos, da Estrada de Ferro Central do Brasil—, que se reuniam nos subúrbios cariocas ou nas residências do bairro da Cidade Nova, onde muitos moravam.
O nome Choro veio do caráter plangente e choroso da música que esses pequenos conjuntos faziam. A composição instrumental desses primeiros grupos de chorões girava em torno de um trio formado por flauta, instrumento que fazia os solos; violão, que fazia o acompanhamento como se fosse um contrabaixo —os músicos da época chamavam esse acompanhamento grave de "baixaria"—; e cavaquinho, que fazia o acompanhamento mais harmônico, com acordes e variações.
Esse tipo de música também era conhecida na época como pau-e-corda, porque as flautas usadas naquele tempo eram feitas de ébano. O choro foi o recurso que o músico popular utilizou para tocar, do seu jeito, a música importada que era consumida, a partir da metade século 19, nos salões e bailes da alta sociedade. A música que os chorões tocavam, porém, logo se distinguiu em muito daquelas tocadas no nobres salões cariocas.
As primeiras referências ao organizador desses conjuntos de pau-e-corda citam o flautista Joaquim Antônio da Silva Calado, ou apenas, Calado.
Calado tinha grandes conhecimentos musicais e conseguiu reunir em torno de si os melhores músicos da época, os quais tocavam pelo simples prazer de fazer música. O repertório dessas bandas incluía polcas, xotes, tangos e valsas. Entre a turma de Calado estavam nomes como Viriato Figueira da Silva, Patola, Saturnino, Luizinho e Silveira. Todos craques em fazer, propositalmente, modulações complicadas com intuito de "derrubar" os outros músicos.
O choro é marcado pelo ardil de seus participantes para derrubar aquele que esteja se saindo mais buliçoso, mais irrequieto que os outros. O choro é uma música feita de arquétipos que exigem do músico muito domínio de seu instrumento e uma apurada percepção de códigos e senhas que se encaixam em gigantescos improvisos.
O nascimento do choro e dessa sua fórmula de improvisação é 50 anos anterior ao jazz, no entanto, se constrói da mesma forma que a música negra norte-americana, ou seja, é feito como se fosse um jogo criativo executado com muita habilidade e genialidade.
Portanto, o tão falado improviso jazzístico já existia no Brasil dos tempos do Império. A construção inconfundível do choro é marcada pelo tema, as harmonias e as modulações, que são moldados por um acompanhamento rítmico, armado malandramente para testar o senso polifônico dos músicos e sua capacidade de improvisar em uma construção musical extremamente móvel.
Esses primeiros músicos improvisadores encontravam-se completamente ao acaso e não tinham nenhuma regra para o número de figurantes ou para o tipo de composição instrumental. Por causa desta informalidade o choro é hoje feito com a participação de vários tipos de instrumentos. O que determinava a maneira como cada instrumento iria participar na música se dava em função da destreza do músico que o tocava, ou seja, não importava se fosse uma cavaquinista ou trombonista quem estava solando na música, o que importava era se ele era suficientemente hábil para fazer os solos.
Isso fez com que o bom músico de choro tivesse como condição básica ser também um bom improvisador. No século seguinte, essa música criada por instrumentistas populares cariocas que eram em sua maioria mestiços em processo de ascenção social, revelou, entre outros, grandes artistas como Sátiro Bilhar, Dino e João Pernambuco (três excelentes violonistas); Lula Cavaquinho e Nelson Alves (cavaquinho); Patápio, Pixinguinha e Altamiro Carrilho (mestres da flauta) e Jacó do Bandolim.
Com o advento do cinema mudo com orquestra na sala de espera, da industria fonográfica e do rádio, esses músicos passaram a se profissionalizar e não precisavam mais trabalhar em empregos públicos como os primeiros chorões. Entretanto, havia instrumentistas como Donga que conservaram a atividade extra-musical. Donga era violonista e oficial de justiça.
Hoje, músicos, entre outros, como Paulinho da Viola, Paulo Moura, Isaías, Hamilton de Holanda, Hélio Delmiro, Turíbio Santos e também os conjuntos Época de Ouro, Água da Moringa, Trio Madeira Brasil, Premeditando o Breque, Galo Preto e muitos outros, mantêm em atividade essa manifestação instrumental popular que os grandes centros urbanos do Brasil produziram e produzem.

Joaquim Antônio da Silva Calado

Chula

A chula é uma dança e gênero musical do Recôncavo Baiano, especialmente na cidade de Santo Amaro da Purificação e cercanias. O ritmo é parte da cultura afro-brasileira.
Nas festas populares a dança é bastante apreciada e envolve os observadores com seus passos curtos e movimentos cíclicos. É uma vertente do samba de roda: da língua kibundo (Angola) veio do termo "semba" declinando para samba.
Os cantores e compositores Jorge Portugal e Roberto Mendes, parceiros nos Festivais de Músicas da MPB nos anos 80 da Rede Globo de Televisão e Raimundo Sodré, dentre outros, são os maiores divulgadores da cultura rítmica santoamarense. A canção "A Massa" composta por Sodré e Portugal, cantada por Sodré, conquistou o público brasileiro e internacional.
O movimento rítmico da música e dança podem ser desenhados por qualquer pessoa que tenha visto de perto ou através de imagens fotográfica e televisiva. É necessário apenas escutar a música para resgatar na memória uma imagem registrada dessa manifestação popular.

Meninas na chula (foto: Espírito Santo)