Afoxé
Três instrumentos básicos fazem parte desta manifestação. O afoxé (ou agbê), cabaça coberta por uma rede formada de sementes ou contas, é percutido agitando-se a rede, que fricciona no corpo da cabaça. Os atabaques, basicamente de três tipos, com três tamanhos diferentes que em conjunto traduzem o som do ijexá, tocado no afoxé atualmente. O agogô, formado por duas campânulas de metal, com sonoridades diferentes, é quem dita o ritmo aos demais instrumentos.
As melodias entoadas nos cortejos dos afoxés são praticamente as mesmas cantigas ou orôs entoados nos terreiros afro-brasileiros que seguem a linha jexá. O Afoxé, longe de ser, como muita gente imagina, apenas um bloco carnavalesco, tem profunda vinculação com as manifestações religiosas dos terreiros de candomblé. Vem daí o fato de chamar-se o afoxé, muitas vezes, de "Candomblé de rua". Inclusive por homenagear um orixá, geralmente, o orixá da casa de candomblé a que pertence. Em Pernambuco, o afoxé ressurge com o Movimento Negro Unificado no final da década de 70, como uma das formas de se fazer chegar à maioria da população, o debate sobre consciência negra e liberdade, através da música.
Baião
O baião é uma espécie de coreografia desenvolvida ao mesmo tempo em que se canta ao som deste ritmo, popular especialmente no Nordeste brasileiro. Ele provém de uma das modalidades do lundu – estilo musical gerado pelo retumbar dos batuques africanos produzidos pelos escravos bantos de Angola, trazidos à força para o Brasil.
A princípio ele era conhecido como baiano, por descender do verbo ‘baiar’, que popularmente se referia a ‘bailar’ ou ‘baiar’, expressões traduzidas no Brasil por bailar. Esta sonoridade foi gerada pelos nordestinos a partir de uma mistura da coreografia dos africanos com as cultivadas pelos nativos, somadas ainda à dança praticada na metrópole. Era, portanto, uma síntese cultural das três raças, muito exercitada ao longo do século XIX.
Na década de 40, especialmente depois de 1946, o baião ganhou novo impulso com a intervenção do genial sanfonista e compositor Luiz Gonzaga, assumindo uma nova tonalidade com a incorporação um tanto inconsciente das características do samba e das congas cubanas. Com esta nova feição este som transcendeu o próprio bolero, disseminou-se por todo o país e até mesmo cruzou os limites do país.
Somente no sul do Brasil o baião teve algumas pequenas modificações. Enquanto normalmente aquele que dança indica seu substituto na coreografia com uma umbigada, nesta região o dançarino escolhe outra pessoa estalando os dedos, simulando o toque de uma castanhola.
O principal instrumento a acompanhar o baião é a sanfona, muitas vezes complementada pelo agogô e o triângulo; com o passar do tempo tornou-se habitual o uso de uma orquestra. O grande êxito musical deste ritmo ocorreu com a gravação da música intitulada Baião, composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Nesta canção os autores convidam os ouvintes a descobrir de que forma se dança o baião, e destaca suas características originais. Gonzagão, como era conhecido, continua a compor outras músicas neste ritmo, e assim leva esta sonoridade ao ápice do sucesso.
Nos anos 50 vários cantores aderiram a este ritmo, entre eles Marlene, Emilinha Borba, Ivon Curi. Gonzaga era considerado o ‘Rei do Baião’, enquanto Carmélia Alves era a ‘Rainha’, Claudete Soares a ‘Princesa’ e Luiz Vieira o ‘Príncipe’.
O baião é sempre coreografado por pares, os quais desenvolvem os passos conhecidos como balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar e rodopio. As mulheres costumam se apresentar trajando vestidos de chita comum, adornados com babados nas saias e dotados de generosos decotes e mangas curtas. Elas normalmente calçam sandálias com muitas cores. Enquanto isso os homens usam calças claras de brim, camisas simples e sandálias de couro cru.
Depois de algum tempo mantido à margem da história musical, o baião ressurgiu no final da década de 70, graças ao resgate perpetrado por músicos do calibre de Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, entre outros. Além disso, este ritmo inspirou decisivamente o estilo tropicalista de Gilberto Gil e o rock de Raul Seixas, que unia estas duas sonoridades, batizando de Baioque o resultado desta fusão.
capa de disco de Luiz Gonzaga
Bossa nova
A bossa nova é um movimento da música popular brasileira surgido no final da década de 1950 na capital fluminense. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, especialmente associado a João Gilberto, Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim e Luiz Bonfá.
A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa novadécada seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas. passou a ser utilizada também na
Alguns críticos musicais destacam a grande influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de musicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova.
Charme
O termo "charmeiro" é utilizado para designar os apreciadores de uma vertente da Black Music (Música negra americana), conhecida popularmente no Brasil como "Charme", termo usado para o R&B Contemporâneo no Brasil, que se desenvolveu a partir do Urban.
Com uma vestimenta social, porém mantendo sempre o seu traço “black”, o charmeiro conserva seu perfil de um negro de bom gosto, romântico e inteligente.
As músicas deste estilo são compostas de forma específica. Elas têm, dentre outras características, um ritmo que é quaternário, muito bem delineado e marcado. Os arranjos são muito bem organizados e chamam a atenção. O trabalho vocal tende sempre a ter uma maravilhosa performance vocal do artista, o que não impede de haver determinadas músicas que não tenham vocal.
Choro
Quadro "Chorinho" de Cândido Portinari
O choro pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira.
Os primeiros conjuntos de choro surgiram por volta de 1880, no Rio de Janeiro —antiga capital do Brasil—, nascidos nas biroscas do bairro Cidade Nova e nos quintais dos subúrbios cariocas.
Esses grupos eram formados por músicos —muitos deles funcionários da Alfândega, dos Correios e Telégrafos, da Estrada de Ferro Central do Brasil—, que se reuniam nos subúrbios cariocas ou nas residências do bairro da Cidade Nova, onde muitos moravam.
O nome Choro veio do caráter plangente e choroso da música que esses pequenos conjuntos faziam. A composição instrumental desses primeiros grupos de chorões girava em torno de um trio formado por flauta, instrumento que fazia os solos; violão, que fazia o acompanhamento como se fosse um contrabaixo —os músicos da época chamavam esse acompanhamento grave de "baixaria"—; e cavaquinho, que fazia o acompanhamento mais harmônico, com acordes e variações.
Esse tipo de música também era conhecida na época como pau-e-corda, porque as flautas usadas naquele tempo eram feitas de ébano. O choro foi o recurso que o músico popular utilizou para tocar, do seu jeito, a música importada que era consumida, a partir da metade século 19, nos salões e bailes da alta sociedade. A música que os chorões tocavam, porém, logo se distinguiu em muito daquelas tocadas no nobres salões cariocas.
As primeiras referências ao organizador desses conjuntos de pau-e-corda citam o flautista Joaquim Antônio da Silva Calado, ou apenas, Calado.
Calado tinha grandes conhecimentos musicais e conseguiu reunir em torno de si os melhores músicos da época, os quais tocavam pelo simples prazer de fazer música. O repertório dessas bandas incluía polcas, xotes, tangos e valsas. Entre a turma de Calado estavam nomes como Viriato Figueira da Silva, Patola, Saturnino, Luizinho e Silveira. Todos craques em fazer, propositalmente, modulações complicadas com intuito de "derrubar" os outros músicos.
O choro é marcado pelo ardil de seus participantes para derrubar aquele que esteja se saindo mais buliçoso, mais irrequieto que os outros. O choro é uma música feita de arquétipos que exigem do músico muito domínio de seu instrumento e uma apurada percepção de códigos e senhas que se encaixam em gigantescos improvisos.
O nascimento do choro e dessa sua fórmula de improvisação é 50 anos anterior ao jazz, no entanto, se constrói da mesma forma que a música negra norte-americana, ou seja, é feito como se fosse um jogo criativo executado com muita habilidade e genialidade.
Portanto, o tão falado improviso jazzístico já existia no Brasil dos tempos do Império. A construção inconfundível do choro é marcada pelo tema, as harmonias e as modulações, que são moldados por um acompanhamento rítmico, armado malandramente para testar o senso polifônico dos músicos e sua capacidade de improvisar em uma construção musical extremamente móvel.
Esses primeiros músicos improvisadores encontravam-se completamente ao acaso e não tinham nenhuma regra para o número de figurantes ou para o tipo de composição instrumental. Por causa desta informalidade o choro é hoje feito com a participação de vários tipos de instrumentos. O que determinava a maneira como cada instrumento iria participar na música se dava em função da destreza do músico que o tocava, ou seja, não importava se fosse uma cavaquinista ou trombonista quem estava solando na música, o que importava era se ele era suficientemente hábil para fazer os solos.
Isso fez com que o bom músico de choro tivesse como condição básica ser também um bom improvisador. No século seguinte, essa música criada por instrumentistas populares cariocas que eram em sua maioria mestiços em processo de ascenção social, revelou, entre outros, grandes artistas como Sátiro Bilhar, Dino e João Pernambuco (três excelentes violonistas); Lula Cavaquinho e Nelson Alves (cavaquinho); Patápio, Pixinguinha e Altamiro Carrilho (mestres da flauta) e Jacó do Bandolim.
Com o advento do cinema mudo com orquestra na sala de espera, da industria fonográfica e do rádio, esses músicos passaram a se profissionalizar e não precisavam mais trabalhar em empregos públicos como os primeiros chorões. Entretanto, havia instrumentistas como Donga que conservaram a atividade extra-musical. Donga era violonista e oficial de justiça.
Hoje, músicos, entre outros, como Paulinho da Viola, Paulo Moura, Isaías, Hamilton de Holanda, Hélio Delmiro, Turíbio Santos e também os conjuntos Época de Ouro, Água da Moringa, Trio Madeira Brasil, Premeditando o Breque, Galo Preto e muitos outros, mantêm em atividade essa manifestação instrumental popular que os grandes centros urbanos do Brasil produziram e produzem. Joaquim Antônio da Silva Calado
Chula
A chula é uma dança e gênero musical do Recôncavo Baiano, especialmente na cidade de Santo Amaro da Purificação e cercanias. O ritmo é parte da cultura afro-brasileira.
Nas festas populares a dança é bastante apreciada e envolve os observadores com seus passos curtos e movimentos cíclicos. É uma vertente do samba de roda: da língua kibundo (Angola) veio do termo "semba" declinando para samba.
Os cantores e compositores Jorge Portugal e Roberto Mendes, parceiros nos Festivais de Músicas da MPB nos anos 80 da Rede Globo de Televisão e Raimundo Sodré, dentre outros, são os maiores divulgadores da cultura rítmica santoamarense. A canção "A Massa" composta por Sodré e Portugal, cantada por Sodré, conquistou o público brasileiro e internacional.
O movimento rítmico da música e dança podem ser desenhados por qualquer pessoa que tenha visto de perto ou através de imagens fotográfica e televisiva. É necessário apenas escutar a música para resgatar na memória uma imagem registrada dessa manifestação popular.
Meninas na chula